Joana Procura o Amor (as luzes e seus milagres) Greta Benitez

Se pelo menos ela não tivesse aquelas mãos de velha...
Joana se sentia muito só. A última paixão dela tinha sido por Gastão, um estranho rapaz que gostava só de moças bonitas e tristes. Flávia, sua ultima namorada, havia sido o caso mais sério. Sua depressão profunda já tinha desafiado os melhores psiquiatras do país, que a consideravam um caso perdido. Apenas um milagre tiraria Flávia daquele estado. Mas um dia uma luz bateu meio de viés dentro do quarto da moça por uma frestinha da janela fechada. E o milagre se fez. Ela estava curada.
Joana, que era meio feia e alegre demais para conquistar Gastão, começou a ficar um pouco abatida pelo amor não correspondido. Afinal, ele era perfeito: jeans furado, cabelo oleoso e os incontáveis discos de rock que levava sempre para o seu trabalho na rádio. Além disso, tinha aquele andar meio desengonçado, típico dos caras mais charmosos.
Nesse momento acontece o segundo milagre da história. A tristeza crescente de Joana a estava transformando em outra pessoa. Sua auto-estima estava completamente deteriorada e seu ego em ruínas. E foi aí. Gastão, para quem a presença de Flávia havia se tornado insuportável após a cura, começava a perceber Joana.
E assim, toda aquela tristeza da moça foi iluminada por uma luz meio de viés (do mesmo tipo que tinha atingido Flávia), que por um momento favoreceu seu melhor ângulo, transformando Joana em dona de uma estranha e melancólica beleza.
Foi aí que Gastão realmente interessou-se por ela.
Mas durou pouco. Com esse acontecimento, a alegria voltou a Joana, trazendo novamente a luz, o que fez o moço afastar-se imediatamente, desiludido, decepcionado e infeliz.
E ele foi embora.
Joana estava mais uma vez só.
Na sacada de seu prédio velho e sem pintura, Joana adormeceu na rede lendo um livro, um daqueles esquecidos por anos na estante. Ao lado do prédio havia uma casa de bruxa, com jardim mal-cuidado e que invadia gentilmente a sacada. Começou a garoar.
Joana despertou diferente, no meio da madrugada. Pela chuva, pelo livro. Pela carícia da folha. Tudo isso foi luz. E ela acordou em paz.

Nenhum comentário: