Hoje a chuva caiu cantando
Um canto gregoriano
porque um anjo morreu.
E no vento que soprava
um perfume sobressaía,
pois um anjo morreu e
as coisas velam criaturas celestiais.
Orei a um Deus que não conhecia,
uma prece eu fiz, implorando anistia,
queria o silêncio das coisas,
sem glória ou outra demasia.
Eu chorei nesta manhã fria,
pois um anjo morreu dentro de mim
e não, eu não sabia lamentar,
não era por aquilo que eu sofria.
Enquanto caminhava pela rua vazia,
um grito bem distante me dizia
“um anjo morreu” e eu repetia
“um anjo morreu dentro de mim”.
Solucei sozinha,
olhava para o céu que escuro sofria,
o céu velava e me pedia
“vele a morte do anjo”
e eu respondia
“o anjo morreu dentro de mim”.
O vento em uma terrivel ousadia,
empurrou-me como quem agride,
quis me ferir, mas eu resistia,
não caí porque o anjo que morreu,
eu respondia “morreu dentro de mim”.
Eu gritava “foi dentro de mim!”
Ninguém me entendeu.
A natureza que antes me sorria,
parecia tão distante,
não compreendia que
quando um anjo morre
dentro de alguém
é sempre por meretria.
Eu olhei para o chão,
que sempre me acolhia,
mas o chão de pedra
endurecia mais e mais,
tudo me castigava.
O chão sério não queria
que eu me deitasse em seu leito,
ele me punia,
pois o anjo morreu
e por este anjo eu não sofria.
Quando a água começou a pingar
de meus cabelos que nesta
manhã compridos escorriam,
uma pequena gota tocou meus ombros,
era uma porção da chuva que caía,
então, escorrendo pela minha pele,
nem um vestígio permanecia
e eu entendi que a água da chuva
também não me queria,
pois o anjo morreu
e por isso eu não sofria.
Fugi para debaixo de uma
marquise que cobria,
pensei que se tudo soubesse
que eu era o mausoléu
de quem agora dormia
a mágoa se esclareceria,
mas não se fala com a natureza,
ela não escuta,
apenas absorve o que eu sinto,
mas neste dia ela se fechou para mim,
e me restou apenas as coisas artificiais
como companhia.
Agora nada mais me move,
eu carrego comigo
o desprezo da natureza
e os restos do anjo que
dentro de mim morreu.
Neste velório triste do mundo,
o mundo me rejeitou,
não me apreciam as coisas,
nada me cai bem.
E ninguém teve pena de mim,
pois ninguém entendeu que
foi eu quem matou o anjo que me pertencia,
e quando isso acontece,
eu juro,
é porque ele merecia.
Ps: Quando a paixão morre dentro de alguém, a natureza apaga suas luzes e até o vôo das borboletas torna-se um mero fenômeno físico. Queria enviar este poema a meus professores, talvez eles entenderiam minha apatia.
3 comentários:
este poema ficou lindo minha flor! e como a dor de alguém pode virar um poema tão belo! como o vazio dentro de alguém pode carregar de emoção tais versos! a arte é sentimento, e existem sentimentos que não possuem palavras para que possamos entendê-los, então traduzimos em poemas, em ações cotidianas aparentemente inexplicáveis!!!!
As penas que caem do céu, são lágrimas do universo, por você, minha querida.
O anjo, uma criatura celestial, que se apresenta superior aos homens, que serve como ajudante ou mensageiro de Deus foi morto por uma fada, fêmea de um elfo, e se apresentou como retrato de uma mulher com uma varinha de condão. Ela veio e te possuiu para realizar encantamentos.
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