Delirava com o odor azedo de suor que vinha do corpo ao lado, inalava profundamente deixando-o penetrar por seus pulmões e invadir sua corrente sanguínea, como se assim pudesse com o cheiro copular. Respirava fundo o odor porque o sabia fruto dos movimentos musculares daquele corpo – os mesmos músculos que sempre lhe fazia implorar por mais força. Delirava, entretanto, de uma forma serena, porque sabia também da delicadeza daquelas investidas violentas, trazendo consigo afeto e ternura. Não era apenas êxtase que encontrava naqueles braços, mas o abrigo fraterno de alguém que lhe falava a mesma língua, talvez compartilhasse os mesmos receios, mas que principalmente, sem muitas palavras, olhava-lhe profundamente nos olhos para em silêncio dizer: deixe-me acalmar teu desespero! Conhecia o conforto daquele leito feito de tronco, pêlos e braços, fortes e imponentes, mas que ao investir-lhe sua virilidade era capaz de dançar feito um bailarino naquele palco de fina e frágil pele branca. Ela já conhecia o corpo sentado ao seu lado, sensível aos seus toques de fêmea sedenta, e era por isso que delirava tanto enquanto respirava o ar que vinha dali. Por isso do filme nem se lembra direito. Por isso jurou para si mesma nunca mais deixar de procurá-lo. Porque já o sabia uma fonte de paz.
3 comentários:
Lindo, lindo, Natali! Forte e sedento!
ual!
eu me esqueci de dizer, em todos esses desencontros, como eu gosto do que você escreve. Não necessariamente da vida que elas carregam, mas de como você as encarrega, as palavras, de exprimir essa ou aquela vida.
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