Talvez, se não fosse a ilusória sensação de acreditar que não estava submetida a sofrer as alterações inesperadas do destino, ela poderia não ter se surpreendido pelo que então vivenciava. Mas não, Helena acreditou ter seu futuro traçado apenas pela sua vontade. E agora aquilo acontecera, não esperava, mas acontecera e ela se surpreendeu com o que viu no espelho, sua imagem, vestindo as roupas, as cores, os perfumes que não imaginava nunca usar, sentindo desprazeres que já lhe fizera amar. Estava sentindo em seu ser latejar as faculdades de seu corpo. Neste instante desejava cada sabor que antes rejeitara. Sente um doce salivante na boca quando segura sua ânsia à conduta inversa que já vivera. Lágrimas e sorrisos trocaram de cenário ilusório de si. E em um ínfimo instante aquele ser acuado percebeu toda a transformação que sua vida sofrera e não soube o que sentir. Foi terrível perceber que sem se dar conta seus próprios passos lhe levaram para uma vida muito distante da que idealizava alcançar. Ela sentiu isso, e sentir era o que não queria para si.
Estava diante de um monstro, um belo monstro que tecera, um monstro que só agora se lembrou que achava feio e rejeitava. Ela se fez feia sem perceber, sem transformar por completo sua concepção de feiúra, e justamente agora, naquele país distante, deparou-se consigo no espelho de um restaurante, e quase não soube o que fazer. Mas conservava, mesmo depois de tanto tempo de disfarce, uma de suas características mais orgulháveis, ainda sabia mentir.
Mentiu para o espelho, seu reflexo pode acreditar no que ela quisesse e sua face reassumiu a imagem de conforto e satisfação de antes do momento letal. Então, acentando a bolsa no seu corpo esguio ela caminhou na direção da fronteira de seus últimos dias de opção, foi na direção de um futuro indefinidamente amargo para esta mulher recuperada da ignorância feliz, e agora diante da mais plena tristeza de um ser.
3 comentários:
metamorfoses cotidianas?
Eu as conheço de perto, elas só não devem ser passageiras!
a abstração de seu conto o torna num poema...
e o que será que você quis dizer com tanta subjetividade...
o que mudou nesses dias...
não importa, pois...
"Helena acreditou ter seu futuro traçado apenas pela sua vontade"
adorei esta frase!
bjs
é meu sim xuxu!
sabe que eu até pensei que vc nem iria gostar... sai lá... acho que é por causa do estilo.
brigada...
bjs
camila
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