Um Sonho de Partida

Primeiro, o sonho, e então
Desperto com a estranha sensação
De haver perdido um trem que passou
E meu corpo inteiro estremece ante a possibilidade
De isto ser real.

Minhas mãos buscam um antídoto,
Minha visão aprofunda-se até o abismo escuro
Que eu costumo chamar de memória, e deposita bem ali
A lembrança fatal.

O som triste de um saxofone
Entra atrevido pela janela e, num insulto
Desliza por mim, toca os pêlos de meu corpo e agora
Sou uma viúva do jazz local.

No sonho eu possuía um amante
(Antes: Ele era quem me possuía, pura poesia carnal)
Com sua voz ele me encantava e me seduzia, nós dois rumo ao paraíso
De um puro orgasmo espectral.

Entre o sonho e o despertar,
O som do jazz, o rosto de meu amante
E a sombra da cidade cega, surda e muda me fazem lembrar:Deveria ter partido no trem matinal.

(Rodrigo Oldboy)

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