Suicídio

Laura sabia que ali não era capaz de respirar, por isso saiu correndo, em um quase desespero, em uma ânsia libertadora. Com uma vontade de fuga, como se estivesse a correr de um perigo que não era capaz de compreender. Sua única vontade era encontrar o mar, o vento da praia e a força das águas, era apenas no gélido das águas noturnas que conseguia acalmar-se. Correu desesperadamente em direção à orla, abandonando atrás de si a legião de amantes, amigos e mulheres que compunham sua vida. No abandono e na entrega, no desprendimento viu-se só e diante de si, da figura velha e pálida que encontrara por acaso certo dia no espelho de um bar cujo nome já era em si uma promiscuidade, Cochicho! Ela sabia que atrás de seu desespero vinha também a liberdade de quem encontra alguma preciosidade existida só para si.

Mesmo preocupada com os absurdos pensamentos, entregou-se à sua loucura. As pernas fracas a derrubaram, e aceitando o chão deitou-se na fina areia que mais se parecia com um tapete acolhedor, depositando ali suas lágrimas, lançadas em gritos e esbravejos, exorcizou de seu corpo todos os demônios que lhe atormentavam a vida. Consciente também da força do próprio desejo e sua carga de inocência perdida, no ganho da temível angustia da liberdade de caminhar com os próprios pés, levantou-se e andou em direção as ondas sentindo que talvez não fosse suficiente dizer, era preciso também conceber certas vontades e empolgações com as quais nunca antes sentira aproximação e a sua vontade era tão grande que superaria seus medos, dar-lhe-ia a capacidade de nado e lhe levaria aos seus impulsos de entrega ao seu merecedor, o Mar.

2 comentários:

Priscila Milanez disse...

essa Laura! Qta intensidade! Gosto de gente assim.

Fernanda Tatagiba disse...

que coisa maravilhosa!!

"As pernas fracas a derrubaram, e aceitando o chão deitou-se na fina areia que mais se parecia com um tapete acolhedor"adorei isso

no último momento acho que a gente vai lembrar de coisas assim...um papel de bala, um rosto sem nome, de um por do sol...de qualquer coisa que não precisou de tento tempo pra existir