Acontece que uma gaita acerta muito em cheio no coração de uma moça apaixonada por blues. Disso ele não sabia, apenas da sua libido tinha conhecimento, aliás, disso o gaitista não poderia esquecer, aquela moça parecia insana ao entregar-se. Sem pudor que lhe protegesse de julgamentos levianos ela o procurou, deitou-se com ele em deleites que jamais esqueceria fazendo daquelas noites verdadeiras serenatas a Afrodite com seus gritos de prazer. Os lábios que sabiam produzir as mais belas notas musicais também sabiam beijar, numa intensidade de músico apaixonado, mas sempre de músico com seu instrumento, prestes a tirar daí os mais belos lamentos de um blues. E a moça, contemplativa, descobriu mais uma forma de quietude para a alma nos braços do músico que tocava para ela. E por isso ela era como mais uma gaita que ele beijava nas noites solitárias, sempre com um certeiro blues.