Dessa vez as ondas são as luzes dos faróis e este mar está violento. Cada número uma possibilidade, os pés descalços em breve pisarão aqui. Meus olhos atentos esperam. Até a fumaça do cigarro desliza ansiosamente pelo ar. Os cheiros da avenida são diversos, severos, vorazes. Invadem tudo e tudo na cidade pesa-se com o vapor das máquinas. Ainda assim mantenho-me atenta aos ventos que confluem nos ares dessa ilha, neles podem conter o cheiro que vem do continente, da praia mais intensa deste lugar. Ele vem descalço, descabelado em tufos de cor. Eu fico aqui, esperando. Contento-me com a embriaguês, quero consciência só amanhã pela manhã ao início do ofício cotidiano. Só a embriaguez acalma, possibilita o sono, ameniza a ansiedade do meu coração. Os ônibus passam, as pessoas passam, mas ele ainda não chegou. E quando enfim a espera se finda, os pés descalços desembarcam aqui. Diz que desdenha, mas olha. Ele me cheira, ele cheira àquele antigo perfume de hortelã. Ele é belo como o escuro da madrugada!


(Vitória, setembro de 2010 - Mãozinha)

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