São muitas andanças para contar e não faltam tinta ou papel para o registro. Contudo descrever alguns fatos ocorridos não mostra a dimensão do que sinto. Sinto que muita coisa foi perdida na poeira dos dias, pequenas alegrias, detalhes esperançosos de uma piscadela de olhos a me deixar constrangida, objetos que trazem na lembrança todas as alegrias de um velho amigo – uma tampinha de garrafa, um boton descolorido. Às vezes uma rápida passada de ônibus em frente ao prédio antigo me trás um sabor do tempo dentro da boca no chiclete que mastigo. O tempo, para mim um amigo, para outros um espinho. O tempo louvado ou o tempo esquecido, tudo é substância do que sinto. Queria ter a destreza de escrever sobre o tempo em que vivo, os murmúrios dos outros que chegam aos meus ouvidos, sempre de inventados significados que profiro. Mas nas toneladas de tempo em que habito, não cabem todas as palavras de tão pretensioso registro. E é tanta vida, é tanta pista que sigo... mesmo quando não é de amor, nem louvor, mesmo quando é apenas o desprezo ao que critico, até as infâmias queria trazer em palavras contadas, amores desfalecidos, amigos que deixei de levar comigo... Tudo, queria tudo escrito no meu grande livro... certa vez rabisquei em um diário antigo “acho que estou no mundo para observar tudo e depois deixar escrito”.
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