Solidão é algo que se cultiva com muito penar e quilos de chocolate, e quando finalmente brinda-se a ela, sente-se do que tratava Clarice Lispector quando falava das núpcias consigo mesma. Brinde feito, o tempo passa a ser puro convívio individual. O eterno prazer da descoberta lenta do próprio ritmo exaustivamente observado. Torna-se objeto de si. Ter a solidão invadida é interromper o som com o qual se dançava, como um vento ambiental. É parar a vibração penosamente procurada, o tom certo do compasso. A canção interrompida. É um intervalo de tempo não previsto, e o improviso forçosamente imposto. Veste outro rosto e volta a ser sociável. E as horas se passam mais contadas do que o normal, o seu normal. E, quando o esforço não se faz mais sentido, apenas obedecido por um bem maior, o espaço volta a ser apenas teu, então lentamente os acordes vão se ajustando e a canção volta a fazer sentido aos seus ouvidos.
Quando a gente se acostuma com a solidão, bem, então não faz mais muita diferença a presença das pessoas...
Nenhum comentário:
Postar um comentário