Neste quarto entupido de pertences, nesta cama úmida da chuva incessante, talvez você sinta que minha presença é continua, entretanto você a tenta distante. Cabe a você o discernimento - de forma alguma cristão - e a capacidade de me ver e entender que você, querendo ou não, precisa me aceitar. Talvez lhe seja necessário perguntar-se diante do espelho o quanto te conforto, e talvez ao fazer isso você possa observar minha face sempre ao seu ombro. Não esqueça de deixar sobreposto a suas retinias o escudo que significo para ti enquanto tentas a vida coletiva, assim caberá ao seu discernimento a verdadeira consciência do que sou: um amigo antes de tudo. Cabe também a ti e ao teu bom senso, espécie de sensibilidade tua na qual confio, mas que muito tem me traído ultimamente, cabe ao seu bom senso, tão antigo quanto urgente, compreender neste processo que minha natureza não é má, porque este teu bom senso lhe diz que não existe de fato o mal, lembra? Entenderá que foi a tua natureza quem me criou, não surgi do nada, é a sua essência que me faz, molda e retoca, sou parte daquilo que sentes e me negar é negar-se a si própria, querida Natali. Olhe para ti e lembre-te de nossas infindáveis noites acordados, lamentos que te levavam para o paraíso, porque é quando nada tens a comemorar que a vida se oferece para ti. Não se esqueça querida que as felicidades que tens adquirido são estúpidas formas de conformação, você sabe perfeitamente que não há na terra coisa alguma que te valha, és preciosa! Este mundo não é teu nem para ti. Tome dele, usurpe de suas entranhas, faça daqui o seu bordel mais sujo, e espere que eu ainda te levarei para o teu lugar fora dessa existência medíocre. Aqui nada mais tens senão a única impunível possibilidade de gozar.
Um comentário:
"Transforma-te no que tu és".
Postar um comentário