Rodrigo,

enquanto passei meses esperando o carnaval chegar, acreditando que iriamos nos divertir sem hora para dormir, vodka, cigarros e pimentas, enfim, ao nosso estilo, não imaginava que os muros de nossa casa estavam começando a se desfazer, e agora é o carnaval o arauto da queda do ultimo tijolo, aqueles muros que esconderam da vizinhança nossas pornografias sem conter o som dos nossos gritos de prazer está caindo lentamente com a chegada do dia de você se mudar, mas tudo bem, jurei que não vou lamentar.

Mas eis que o carnaval vai chegar e você vai partir, então o que faço com nossa casa, nossos muros, nossas noites desenhadas nas paredes? Não posso ficar lá, não sem você! Descolar seu poema da parede do quarto nem pensar, e os cartazes de filmes? Aquele do Park Chan-wook, que eu consegui para você, lembra? Até o do Casa Vazia que nunca foi pregado... Não, ficarão lá, com a casa para que outro as tirem!

Não que eu queira transformar aquele apartamento em um museu da nossa vida juntos, é que eu não consigo mudar um quadro de lugar, não consigo fazer de lá uma casa só minha, até a Madona vai ficar solitária sem você. Não sei ir levando sua ausência. Então vou me mudar, assim como você. Para onde também não importa, para mim importa agora refazer tudo, garantir que a guinada seja para uma boa direção.

Eu vi tudo que você fez, entendi tudo que sentiu, e estive tão próxima de ti que quase ouso te chamar de meu, mas preciso reafirmar que nunca te possui, ninguém possui alguém, lembra? Contudo meus lençois, querido, ainda vão te abrigar, basta você querer, em minha cama eu vou sempre te desejar, e isso não é uma promessa, é um convite para você voltar sempre para mim, sempre que quizer, mesmo que para uma rapidinha, uma visitinha ligeira. Onde eu estiver, onde você estiver, eu vou sempre te esperar. Eu ainda te amo incondicionalmente.

4 comentários:

Rodrigo disse...

Todas essas palavras ganharam outro sentido desde que estou aqui, a ausência se reflete em tudo e em todos e a dor não é nada parecida com aquela da partida iminente. Não sobrou nada do desespero, só silêncio e uma espera ainda maior...

Paulo Gois disse...

xuxus,
q angústia acompanhar esse diálogo de vcs, de uma franqueza plasticamente interessantíssima!! deu até vontade casar pra ter essa memória da vida a dois borrada pelos espaços!

adoro vcs, tenho-os como um modelo exitoso de parceria amorosa, justamente por essa posse livre!

saudades das pimentas, chás, som de LP, bike nas costas descendo escadas. agora eu sou o filho órfão dessa história!

xros

Emmanuel disse...

Delicado,

diferente de nossa fragmentada pós pós do nada, onde somente nossos umbigos (me perdoe Fernandinha e sua poesia...rsrs) só cabem nosso impulso exacerbado de autoafirmação constante...

amar...

ter pra crer, crer pra ter

abrá

Priscila Milanez disse...

bonito!