A moça e seu taxista

Assoviou alto. O carro parou. Ela entrou no carro. A viagem começou.

­- Praça Mauá, por favor.

- Morro da Conceição?

- Você já sabe onde mora meu novo amor!

Olhou para o taxista e lhe sorriu, como quem já conhecia o enredo quando dali partiu.

Depois dessas poucas palavras, silenciaram-se os dois. Ela sorria, ele observava. Cada um com seu silêncio contemplava. Ele a paisagem, ela as palavras – sua mente uma poesia imaginava – o Destino era o senhor que reverenciava.

Ele obedecia a moça, pensava menos no dinheiro do que na Cautela – sua senhora, sua megera. Queria o agrado dela, o sorriso sem pudor. Por isso continha a paixão, mesmo que com dor.

Ele tinha sua mulher, ela os seus homens, cada um com uma história, ambos preocupavam-se com um nome.

Cada um guardava sentimentos um pelo outro. Cada um com sua gradação. Cada um com seu “muito pouco”.

Nunca se tocaram, apenas com olhares se comunicaram. Quando as palavras doces lhes vinham à mente, as bocas se calavam, e o silencia reinava facilmente.

Assim durou por muito tempo a história desses dois. Separavam-se nos momentos de reverenciar seus senhores, ora o Destino, ora a Cautela. Sempre injustos com o taxista, sempre duros com a bela. Ela nunca teve amor, ele nunca teve sexo. Ambos experimentaram pouco com outros do que teriam em abundancia se suas vidas tivessem nexo. Mas separados foram para sempre infelizes. Ele com seu casamento pacato e ela com seus amores tristes.

2 comentários:

Rodrigo disse...

aquele título de uma peça, "dois perdidos numa noite suja", me parece que seria muito adequado pra este conto... você é a pessoa ideal pra contar essa ópera dos corações insatisfeitos... perfeito, perfeito!

Fernanda Tatagiba disse...

gostei muito! me lembrou cordel